Não foi propriamente notícia o pedido de demissão apresentado por José Sócrates a Cavaco Silva.

Quinta-feira, 24 de Março de 2011

Não PEC(arão) mais

Não foi propriamente notícia o pedido de demissão apresentado por José Sócrates a Cavaco Silva.
E a consequente queda do Governo a que preside que se seguirá ao mesmo.
O Presidente da República vai agora ouvir os partidos.
Que lhe vão dizer quer deve aceitar o pedido de demissão apresentado pelo primeiro-ministro e convocar eleições antecipadas.
Só depois, Cavaco Silva, que adora formalidades e formalismos, anunciará que aceita o pedido de demissão apresentado pelo primeiro-ministro.
E a consequente convocação de eleições antecipadas.
As reacções ao pedido de demissão apresentado por José Sócrates sucedem-se (ler aqui).
E são o mais variadas possível.
Nesse quadro, aqui vai mais uma.
Pessoalmente, acho óptimo que se clarifique, de uma vez por todas, a situação política em Portugal.
E que, seja quem for que ganhe as eleições, que o Governo que sair das mesmas procure um amplo consenso parlamentar.
Sim, que não creio que se venha a verificar uma maioria absoluta de um só partido.
Como tal, terá que haver entendimentos a nível parlamentar no intuito de se conseguir uma ampla base de apoio para sustentar uma governação que vai atravessar o "cabo das tormentas".
O país está mergulhado no caos.
Político, económico e social.
E vai ter que reverter essa situação nos anos mais próximos.
Com a agravante, poucas vezes referida, de, a partir de 2013, deixar de poder contar com os dinheiros vindos da União Europeia.
Pior, de ter que passar a contribuir para que outros beneficiem dos Fundos que beneficiaram Portugal durante largos anos.
E é na formação desta maioria alargada, deste consenso, que o Presidente da República tem que intervir.
Que tem que fazer uso da tão propalada magistratura de influência.
Já chega de retórica vazia.
É hora de agir.
Um governo de minoria parlamentar terá sérias dificuldades para enfrentar um cenário de grande rigor económico, orçamental, de tomada de medidas impopulares.
E este foi um dos grandes erros de José Sócrates.
Autoritário, arrogante, o primeiro-ministro demissionário comportou-se sempre como se fosse detentor de um poder absoluto.
O episódio, rocambolesco, do PEC IV, foi só o último capítulo de uma série em que se sucederam atitudes de total desrespeito para com os outros partidos, a Assembleia, o próprio Presidente da República.
Que culminou, como se apressou a dizer Paulo Portas, com a falta de educação que representou a saída intempestiva do debate parlamentar de ontem.
Logo após a intervenção de Teixeira dos Santos, o primeiro-ministro abandonou o hemiciclo para se colocar à frente das câmaras de televisão à hora dos telejornais.
Se isto não é desprezar o Parlamento então não sei o que será.
José Sócrates tem uma concepção da política baseada no espectáculo, no marketing, na retórica.
Em tempos de crise, profunda, não funciona.
E José Sócrates não percebeu isso.
Escolheu, sempre, esse caminho.
Ontem fê-lo de novo.
Apresentado-se como vítima à hora de maior audiência dos canais televisivos (aqui).
Numa clara estratégia pré-eleitoral.
Sejamos claros - José Sócrates deslocou-se ontem à Assembleia da República apenas e só com o início da campanha eleitoral para as eleições que se avizinham em mente.
O PEC era um nado-morto.
E José Sócrates sabia-o.
Essa é a atitude típica de um demagogo, de alguém que tem uma concepção populista e panfletária da política.
Não sei se José Sócrates se apresentará como líder do PS nas próximas eleições .
Ele, e Francisco Assis, dizem que sim (aqui).
Cá estaremos para ver se será realmente assim.
Penso (e é também o que desejo) que as eleições antecipadas que se realizarão lá para Maio são um acontecimento muito positivo.
Para arrumar o Parlamento.
E para, a partir daí, arrumar o País.
Publicada por Pedro Coimbra
 

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