ACORDA BRASIL

Indígena publica carta por autonomia na gestão dos pontos de cultura

O Movimento Cultura Brasil recebeu esta carta (reproduzida fielmente abaixo) e a considera uma interessante provocação para discutir as relações entre o Estado e os povos nativos do Brasil. Leiam e comentem!
CARTA DE REVOLTA
Aos que trabalham com pontos de cultura, aos amigos e indigenistas, mais principalmente às organizações indígenas e parentes de todas as etnías o motivo de minha revolta.
Instituto Kaingáng (INKA) organização não-governamental sem fins lucrativos, nascido na Aldeia de Serrinha a aproximadamente oito anos composta apenas por indígenas Kaingáng, de diferentes aldeias do Rio Grande do Sul, onde minha história também começou.
Eu Vãngri Kaingáng, também participei deste nascimento do (INKA), trabalhando como voluntária durante muitos anos, como pagamento eles me reeducaram, me permitiram aprender desde o conhecimento digital até o conhecimento artístico cultural.
Hoje sou escritora, ilustradora, artista plástica, palestrante, oficineira, arte educadora, multiplicadora do teatro dos oprimidos, artesã de meu povo, ciente de meuas costumes de meus direitos e deveres como educadora bilíngue e como indígena Kaingáng que sou!
Durante os anos em que o (Inka) cresceu eu fui crescendo e me preparando com ele, aprendi a me defender do preconceito dos não indígenas corrompidos pelo dinheiro e poder, coisa muito comum em todos os povos em todas as raças.
Passei a meus alunos esses importântes conhecimentos, assim como o orgulho de ser Kaingáng, em qualquer lugar em qualquer situação, toda nossa história de tristeza mais também de resistência ao domínio dos não indígenas, isto passei a cada aluno meu, o verdadeiro valor de nosso povo Kaingáng para que não carregassem mais vergonha e sim dignidade de ser o que sempre fomos, indígenas.
Para hoje depois de todos estes anos de trabalho ser quem sou, graças ao (Inka).
O ponto de cultura KahnGág Jãre nasceu assim, alguns anos depois dentro do (Inka) o primeiro ponto de cultura indígena dentro de aldeia do Brasil, na Aldeia de Serrinha, junto com o ponto de cultura nasceram o grupo de griôs Anciãos Kaingáng, para servir a comunidade e auxiliar as escolas indígenas dentro da aldeia!
Ainda sou universitária e hoje trabalho com este grupo de velhor Kaingáng, que me ensinaram o que nenhuma universidade jamais vai me ensinar, nem os maiores doutores da Terra detem o conhecimento destes cinco anciãos e deles sou aprendiz!
Esse conhecimento milenar da educação tradicional indígena, de nosso povo.
Ensinamento de pai para filho de avô para seus netos, com eles aprendi o valor de nossa língua materna, um conhecimento que não deixarei morrer.
Por isso hoje estou escrevendo a cada endereço de email, para dizer que repudío a atitude do Ministério da Cultura, por deslavadamente tirar o direito de todas as organizações indígenas de todos o país, de gerirem os pontos de cultura de suas regiões.
Mais forma capazes de largarem a gestão destes vários pontos de cultura indígenas, em terras indígenas, nas mãos de organizações que nada sabem sobre nossos costumes nem sobre nossas crenças e tradições.
Cheeeeeeggaaaaa de 5011 anos depois ainda quererem nos manipular, não aceito e não aceitarei, por isso pergunto ao Ministério da Cultura.
Porque o (INka) e nosso ponto de cultura KahnGág Jãre, foi diversas vezes premiado, pelo próprio Ministério da Cultura com iniciativas como Prêmio Escola Viva 2008 entre as iniciativas de todos os pontos de cultura do Brasil, porque recebemos prêmios como Griôs na Escola 2010, projetos dos quais eu mesma fui autora pooorrqquuueee, então nos julgam incapazes porque MinC.
Porque somos indígenas?
Ou porque nos julgam incompetentes para educar nossas crianças e jovens, se desde milênios nossa educação nunca falhou com nossos filhos e hoje serve de exemplo para educação dos filhos dos não indígenas dos filhos de vocês!
Educar é uma arte que não está na mãos dos não indígenas, que nada sabem sobre nós, que nunca colocaram os pés em aldeias, mais que está em nossas próprias mãos.
Finalizo minha carta de revolta e espero que esta chegue a Mão dos responsáveis por este ultraje, que 5011 anos depois ainda voltamos a sofrer e que não atinge apenas aos Kaingáng e nossas organizações, porque nós provamos nossa compatência dentro dos parâmetros que são cobrados por vocês, Ministério da Cultura. Liberdade ainda que tardiamente!!!
Vângri Kaingáng: escritora, educadora bilíngue, artista plástica e artesã do ponto de cultura Kanhgág Jãre do Instituto da Aldeia de Serrinha.


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