TARJA PRETA: POR QUE O RIVOTRIL É TÃO CONSUMIDO?



Na frente de remédios para dor de cabeça e febre, o ansiolítico nem sempre é prescrito adequadamente - e pode causar problemas.


É de se desconfiar quando um remédio necessariamente controlado, de tarja preta, se torna o segundo medicamento mais vendido no país. De acordo com o Instituto IMS Heath, no ano passado os brasileiros consumiram 14 milhões de caixas, ficando atrás apenas do anticoncepcional Microvlar. Será que realmente há tanta gente que precisa ser medicada?



Para que serve 
Além de ser ansiolítico (agir contra a ansiedade), o remédio é anticonvulsante, poderoso relaxante muscular (e por isso é usado muitas vezes para tratamento de insônia) e é usado até para casos de overdose de anfetamina.

Apesar de possuir tantas propriedades, a categoria dos tranquilizantes não acompanha o sucesso do Rivotril. “Essa categoria é apenas a sétima que mais vende no Brasil. Fica atrás de analgésicos, anticoncepcionais e mais uma lista de medicamentos”, conta a psiquiatra Andrea Mercantes.


Amigo Rivs 
A professora do Ensino Médio Carolina Carpezim, 36 anos, faz parte dos adeptos do Rivotril há seis anos. Na sua bolsa, além do celular, batom e da chave de casa, há sempre uma caixinha do remédio.

“O primeiro comprimido ganhei de uma amiga, quando terminei meu relacionamento de cinco anos. De lá pra cá, não parei mais. Sempre que me dá uma baixa emocional já tomo um comprimido. O Rivs (apelidinho dado por quem consome) é a grande invenção da humanidade”, conta ela.


Efeito bem-estar 
Esse uso descontrolado em qualquer sinal de alteração dos ânimos é um dos grandes fatores para as vendas do remédio estarem sempre em alta. “O problema não é apenas o vício e a dependência que o consumidor de Rivotril cria. Há aí um problema sério no atendimento médico ao paciente também. Basta dizer que não está bem e o médico logo receita o ansiolítico. Cria a sensação de bem-estar, mas não resolve o real problema”, explica Andréa.

Beatriz M. *, 23 anos, começou a se automedicar quando entrou na faculdade de Engenharia dos Alimentos, há cinco anos. Na sua turma de amigas, não tem uma que não toma o “milagroso remedinho”. “Todo mundo na faculdade toma. É tipo fumar maconha, tomar cerveja. E ele ainda melhora o seu dia rapidinho”, explica Bia.

Plínio Montagna, presidente da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo, nota uma glamorização no ato de medicar-se. Os remédios psiquiátricos foram desmistificados e, hoje, são indicados até por quem não atua na área da Psiquiatria. “Emoções normais e importantes para a mente, como tristeza ou ansiedade em situação de perigo, são eliminadas porque incomodam”, diz ele.


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