SEXUALIDADE E AUTO-ESTIMA
A
preocupação com a satisfação e o prazer sexual de homens e mulheres tem
aumentado consideravelmente nos últimos anos. Em decorrência disso, tem
aumentado a necessidade de se compreender melhor as dificuldades sexuais, suas
causas e conseqüências.
Sabemos
que a sexualidade é parte integrante da personalidade total das pessoas. A
sexualidade humana não se limita ao ato sexual; ela engloba emoções, afetos,
sensações, etc. Dessa forma, sentimentos e pensamentos influenciam o exercício
da sexualidade. O contrário também ocorre, ou seja, a vivência da sexualidade
irá influenciar sentimentos e pensamentos, inclusive a respeito de si mesmo.
O
conceito de auto-estima pode ser compreendido como a aceitação do que se é e
como se é. É a confiança no direito de ser feliz, a percepção de valor e de
poder ser admirado. A sensação de inadequação, de culpa ou vergonha, ou ainda a
ausência de confiança e amor-próprio, indicam prejuízo na auto-estima de um
indivíduo.
É
consenso entre os profissionais que a sexualidade humana sofre forte influência
de fatores como auto-estima, auto-imagem e auto-conceito. A forma como a pessoa
se valoriza interfere, sem dúvida, em como irá exercer sua sexualidade.
A
auto-estima está relacionada a outros dois conceitos importantes: auto-eficácia
e auto-respeito. A auto-eficácia é a confiança do indivíduo em sua capacidade
para pensar e enfrentar os desafios da vida. Já o auto-respeito é a percepção
de si mesmo como pessoa merecedora de felicidade e qualificada para expressar
desejos e necessidades. O indivíduo com auto-estima preservada se respeita e
exige o mesmo dos outros, e sente-se capaz de ser amado. Já uma pessoa com
sentimentos de menos-valia pode não ter prazer sexual por não se sentir no
direito de reivindicá-lo.
Como
podemos perceber, sexualidade e auto-estima são conceitos que estão intimamente
ligados, sendo que queixas e sintomas sexuais podem, muitas vezes, ser
expressões de baixa auto-estima. É muito comum chegarem aos consultórios
pessoas com dificuldades sexuais cuja causa é a má relação que a pessoa tem
consigo ou com seu próprio corpo.
É
o caso de mulheres que não conseguem ter orgasmo porque não estão satisfeitas
com o corpo que têm, e se preocupam excessivamente com a aparência na hora da
relação sexual. Ou ainda porque não se permitem pedir o estímulo adequado aos
seus parceiros, e continuam mantendo relações pouco agradáveis.
Poder
falar como quer ser tocada e estimulada, além de poder pedir as carícias ou
práticas sexuais que lhe são prazerosas, exige que a pessoa seja um pouco
"egoísta" em determinados momentos. Não se sentir importante o
suficiente, ou ainda achar que o outro pode se aborrecer com as solicitações,
limita significativamente as possibilidades de realização sexual.
Na
prática clínica pude perceber que as conseqüências mais comuns da baixa
auto-estima em mulheres são: grande necessidade de sentir-se amada e de agradar
ao parceiro, medo de fazer solicitações, dificuldades com o corpo e aceitação
do que não gosta ou não quer.
Os
homens também apresentam dificuldades causadas pela baixa auto-estima, como
sentimentos de incompetência, de ser menos "homem" ou menos viril,
grande cobrança interna, comparação com outros homens e insatisfação com a
fragilidade. Alguns ficam tão preocupados com seu desempenho sexual,
acreditando que irão "falhar", que acabam apresentando dificuldades
de ereção por causa dessa ansiedade. A antecipação do fracasso e a ansiedade de
desempenho são processos cognitivo-emocionais bastante comuns, que normalmente
levam a disfunções sexuais, e que na maioria das vezes são causados por
insegurança e baixa auto-estima.
A
função sexual preservada, isto é, livre de disfunções, é algo fundamental para
a realização pessoal. As dificuldades sexuais, na maioria das vezes, abalam a
estrutura global do indivíduo. Dessa forma, podem comprometer, de forma
significativa, o bem-estar e a qualidade de vida de homens e mulheres.
A
baixa auto-estima pode causar diversas dificuldades sexuais, sendo que essas
dificuldades acarretam em uma alteração ainda maior do conceito que a pessoa
tem de si mesma. A pouca valorização nos torna adversários do nosso próprio bem
estar. Saber-se merecedor da felicidade é a essência da auto-estima e da
plenitude sexual.
Cláudia
Faria, psicóloga e terapeuta sexual.
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